terça-feira, 10 de agosto de 2010

extraido do blog da caludia colucci

09/06/2010
A "coisa" que não queremos sentir
"Sou feliz, sou amada, tenho uma vida plena e interessante, mas sinto essa "coisa" de quando em quando... uma pena. Queria não sentir."

Este trecho da mensagem da Giseli me tocou. A "coisa" a que ela se refere é o vazio que às vezes bate pela maternidade não realizada, um sentimento, aliás, bem conhecido por nós. Mas entendo que essa "coisa" vai muito além e esbarra em um denominador comum: a dificuldade de lidarmos com as frustações, com aquilo que foge ao nosso controle.

Fiz essa associação ao lembrar da conversa que tive no último final de semana com a minha sobrinha de 12 anos, às voltas com sua primeira "paixão". Aos prantos, ela repetiu exatamente a mesma frase da Giseli: "Eu não queria sentir isso, Cacau!". Está insegura porque o "escolhido" é o garoto mais bonito da sala, alvo de 100% das meninas. E ela sofre porque acha que não terá chances. "Na minha sala, existem outras meninas muito mais bonitas do que eu", disse, ainda chorando. É incrível como essas histórias se repetem...

Quis pegar no colo a minha menininha_que, aliás, já tem corpo de mulher, usa as minhas roupas e os meus sapatos_, mas ela está naquela fase arredia a carinhos. Então apenas deitei-me ao seu lado, reforcei os valores dela e falei um pouco dessas inseguranças que habitam o universo feminino desde que o mundo é mundo. Contei também que na idade dela (na verdade, eu era ainda mais nova, tinha 10 anos!) fui apaixonada por um garoto da escola, o Nivaldo, também disputado por várias meninas.

Uma delas, a Rosana, era minha melhor amiga. Vivíamos escrevendo "Nivaldo, eu te amo" em todos os lugares, até debaixo das mesas e cadeiras! E o moleque, assustado, vivia fugindo da gente. Minha paixão pelo Nivaldo acabou no dia em que a Rosana morreu, afogada, na represa de Furnas. Anos depois, morreu também o Nivaldo em um acidente de moto. Mas é claro que não contei esse final trágico da história para não traumatizar a minha pequena.

O fato é que essas duas associações improváveis, a dor de uma paixão não correspondida e a dor pelo filho que ainda não veio, levou-me a várias indagações. O que acontece com nós mulheres? Parece que desde a mais tenra idade somos instigadas a correr atrás de um "objeto do desejo" inatingível. Por mais que tenhamos, que conquistamos, parece que nunca é o bastante. De quando em quando, vem a "coisa" a atormentar.

Hoje não tenho dúvida de que a "coisa" não se resolve com um filho. A dor da infertilidade é tão forte e, ao mesmo tempo, o mito da maternidade é tão sedutor, que muitas vezes nos deixamos enganar pelo canto da sereia, imaginando que um filho virá para resolver todos os problemas. Nossos medos, nossa solidão mais intrínseca. Um filho pode atenuá-los, mas dificilmente tem o poder de resolvê-los. Ainda bem. Já imaginaram o tamanho da responsabilidade deste bebê?

Mas às vezes a vida nos ensina a aceitar as coisas simplesmente como elas são. Aprendi isso ano passado, após sofrer meu segundo aborto. Por vários dias, perguntei-me o porquê do mesmo raio ter caído duas vezes sob minha cabeça. Meu luto acabou três semanas depois, quando recebi o resultado do teste genético do feto: trissomia do cromossomo 18, uma doença genética gravíssima, que em 95% dos casos leva ao aborto. Os 5% dos bebês que sobrevivem ao nascimento, morrem nos primeiros anos de vida devido às múltiplas má-formações. Na mesma hora, agradeci ao Universo por ter me poupado de maiores sofrimentos. E lembrei-me, de novo, daquela lenda budista que já postei aqui: boa sorte? má sorte? quem poderá dizer?






Escrito por Cláudia Collucci às 21h11

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